O aumento da vacinação em massa e a diminuição no número de infectados pelo coronavírus são responsáveis pelo retorno das atividades presenciais, enquanto o aumento da ansiedade social pode ser consequência do distanciamento preconizado durante os últimos dois anos de pandemia
Em março de 2020, a proliferação exacerbada do novo coronavírus modificou as relações interpessoais familiares, escolares e trabalhistas. O surgimento da pandemia fez com que grande parte das instituições estudantis alterassem os seus formatos de ensino para a modalidade remota, e as empresas para a categoria home office. Isso porque, o distanciamento social foi uma das medidas implementadas para que o contágio diminuísse.
Esse afastamento populacional, ainda que necessário para mitigar o alastramento do vírus e suas variantes, desencadeou outros desequilíbrios nas relações sociais. Se por um lado diversas pessoas tinham saudade da antiga vida antes da doença, por outro muitos se adaptaram a este ‘novo normal’, ou seja, se ajustaram a esse cenário que preconizava o isolamento.
Contudo, o avanço da vacinação em massa e a atenuação do número de infectados impulsionou flexibilizações por parte dos órgãos sanitários. Por isso, aos poucos, as medidas aplicadas no início da pandemia se tornaram mais brandas, como aconteceu recentemente com a liberação do uso de máscaras em determinadas regiões do país.
Atualmente, diversas escolas e faculdades voltaram a ministrar aulas presencialmente, bem como as empresas que regressaram ao antigo modelo de trabalho adotado anteriormente ao vírus. Nesse contexto, com o retorno das interações estudantis e profissionais de forma presencial, o número de indivíduos com ansiedade social aumentou em ampla escala, o que, diga-se de passagem, já era previsto por médicos, psicólogos e pesquisadores da área da saúde.
O que é a ansiedade social?
Em entrevista, a psicóloga Ana Laura Candela, especializada em Clínica Fenomenológica Existencial, explica que a ansiedade social, também conhecida como fobia social, pode ser conceituada como uma tensão emocional para situações que envolvam aglomeração.
“A fobia social é um tipo de distúrbio, no qual a pessoa sente muita ansiedade e chega a evitar algumas situações sociais. Por exemplo, andar de ônibus e ir ao mercado. O portador começa a evitar esse tipo de situação, e, quando não evita realmente, sente muita angústia “, esclarece.
No que diz respeito aos sintomas, a profissional alerta que eles podem ser muito semelhantes aos de outros transtornos, como a ansiedade – categoria em que a fobia social se enquadra. Mas, ressalta que os mais recorrentes são: sudorese, tremores, desconforto, medo e taquicardia.
Dessa forma, a psicóloga reitera que o acompanhamento profissional deve ser priorizado para que o diagnóstico seja feito corretamente e o tratamento psicoterapêutico também, principalmente pelo fato de que esse distúrbio pode facilmente ser confundido com outras condições de desequilíbrio psicoemocional.
A presença desse transtorno entre estudantes
De modo geral, há quase dois anos estudando dentro de suas casas, os alunos aderiram o ensino remoto em suas rotinas e voltar para as salas de aula não foi uma tarefa tão fácil quanto se imaginava. Hoje, com um cenário favorável para a retomada das aulas presenciais, a fobia social tornou-se realidade na vida dos estudantes, essencialmente entre os universitários, que enfrentaram esse isolamento de uma forma mais agressiva, tendo em vista que muitos já não moravam mais com seus pais quando a pandemia começou.
De acordo com Daiane Carneiro da Silva, universitária do primeiro semestre de Zootecnia da Unesp Botucatu, o processo foi mais complicado do que estava esperando, e o desconforto perante o regresso foi explanado por alguns de seus colegas de curso.
“Sem dúvidas, todo mundo estava se acostumando a viver em seu casulo, em ambientes com um círculo social bem reduzido. Tentar voltar para o outro normal gera dificuldades para qualquer um, e se adaptar às novidades requer esforço”, pontua a estudante.
Quando indagada sobre suas próprias experiências emocionais com o retorno das aulas presenciais, Daiane revela que a situação foi mais desafiadora do que estava prevendo.
“Tive medo de não saber fazer amizades novas, levando em conta que as últimas que eu tinha feito foram no Ensino Médio, que já tinha terminado há dois anos. Além disso, todas as preocupações em relação à pandemia que ainda existe e permanece presente”, relata.
No ponto de vista da Psicóloga Ana Laura, a assistência de profissionais da saúde mental poderia contribuir para a prevenção desse transtorno entre os estudantes, haja vista que as medidas preventivas são um dos mecanismos mais eficazes para combater a ansiedade social.
Relações trabalhistas também são afetadas
Em espaços de trabalho, as dificuldades de convívios entre os colegas cresceram com o regresso das atividades presenciais. Na pandemia, a comunicação foi feita pelas telas de computadores e celulares. Por esses motivos, mensagens e reuniões virtuais tomaram conta da rotina desses funcionários, e a volta para o modelo convencional de vivência diária com outras pessoas ampliou o surgimento desse distúrbio entre eles.
Sobre isso, a especialista em Clínica Fenomenológica Existencial traz para o debate a ausência de profissionais psicólogos como um fator de destaque para a ansiedade social em relações trabalhistas.
“É fundamental ter esses profissionais nas empresas, não apenas para processos seletivos. Mas, para levar palestras e informação, porque as pessoas ficam ali praticamente o dia todo, elas passam mais tempo em seus trabalhos do que em suas próprias casas”, salienta.
O acompanhamento profissional é essencial
Em qualquer desconforto ou tensão psicoemocional, sejam elas em situações escolares ou laborais, o acompanhamento psicológico é imprescindível para que os tratamentos sejam estipulados corretamente. Isso porque, ainda que os distúrbios tenham sintomas em comum entre os portadores, somente os especialistas da área, como psicanalistas e psicólogos, poderão traçar um diagnóstico assertivo para cada caso.
O tratamento, na maioria das vezes, é feito por intermédio de sessões psicoterapêuticas e em casos específicos com a recomendação de remédios por profissionais aptos para esse tipo de receituário.
Ademais, existem instituições e projetos que contam com esse tipo de auxílio de forma inteiramente gratuita, por exemplo, o NATPS (Núcleo de Atenção Psicossocial) do campus da UNESP Bauru. Essa entidade promove diversas ações de acolhimento e escuta aos discentes e docentes da comunidade acadêmica unespiana, com o intuito de promover a informação e o cuidado com a saúde mental. O mesmo vale para o CVV (Centro de Valorização à Vida), que atende voluntariamente – por intermédio de ligações e e-mails – pessoas em situação de vulnerabilidade psicológica.
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Por: Felipe Nunes, Jornal Jr. – Unesp/ Bauru