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Doação de sangue: um gesto simples que salva vidas

(Imagem: Reprodução/Nguyễn Hiệp-Unsplash)

A doação de sangue é um ato simples, mas que pode ajudar a salvar muitas vidas. Em muitas situações – como cirurgias de grande porte, doenças crônicas e acidentes graves – a transfusão é a única alternativa para a sobrevivência do indivíduo. 

A história da transfusão de sangue

A história da doação de sangue é mais antiga do que muitos imaginam. Em 1667, o médico francês Jean-Baptiste Denys, que atendia o rei Luís XIV, realizou o primeiro caso documentado de transfusão da história. O médico transferiu sangue de ovelha a um menino de 15 anos. O procedimento, surpreendentemente, não causou a morte do garoto.

Em 1900, um imunologista austríaco, Karl Landsteiner, observou que o soro do sangue de uma pessoa muitas vezes coagulava ao ser misturado com o de outra pessoa. Assim, era descoberto o primeiro e mais importante sistema de grupo sanguíneo existente no organismo: o ABO. De lá para cá, os estudos hematológicos e a tecnologia tornaram o ato de doar sangue seguro e indispensável para salvar milhões de vidas.

Décadas após a descoberta do sistema de grupo sanguíneo ABO, outro fato revolucionou a prática da medicina transfusional: a identificação do fator Rh. Cerca de 85% das pessoas possuem o fator Rh nas hemácias, sendo por isso chamados de Rh+ (Rh positivos). O restante da população é Rh- (Rh negativos), já que não possui o fator Rh. É importante conhecer o tipo sanguíneo em relação ao sistema Rh, pois isso evita reações de incompatibilidade numa transfusão de sangue.

Além do sistema ABO, o mais conhecido com 8 tipos sanguíneos: A+, B+, AB+, O+, A-, B-, AB-, O- , há tipos de sangues raros como o Bombay – considerado falso O – ; e o “sangue dourado” que tem RH Nulo (não conta com nenhum tipo de antígeno).

Os tipos sanguíneos

Se você ainda não conhece seu tipo sanguíneo, não se preocupe, hospitais e centros hematológicos fazem testes antes da doação. É importante saber, no entanto, quem doa para quem, principalmente para evitar incompatibilidades, que podem inclusive levar à morte.

No sistema ABO, há dois tipos de sangue especiais: o O-, que é doador universal, ou seja, doa para todos os tipos do grupo; e o AB+, o receptor universal, que recebe todos os tipos de sangue desse sistema sanguíneo, sejam fator positivo ou não.

A importância da doação de sangue

A ciência avançou muito nas últimas décadas, mas até o momento nenhum cientista encontrou algum substituto para o sangue para pacientes. O tecido é responsável por transportar nutrientes, gases e hormônios essenciais para o corpo, o recolhimento dos resíduos metabólicos e a garantia da defesa e imunidade do organismo.

Cada doação contém, no máximo, 450 ml de sangue, volume que já é suficiente para salvar a vida de até quatro pessoas. Esta quantidade não faz falta para a maior parte das pessoas, visto que se trata de menos de 10% de todo o sangue do organismo e que é reposto em cerca de 24 horas após a doação.

Além de salvar a vida do receptor, a doação de sangue também se preocupa em preservar a vida do doador: o ato de doar é seguro e todos os materiais utilizados são esterilizados e descartados logo após o procedimento.

No entanto, mesmo com tantos benefícios, dados levantados pelo Ministério da Saúde indicam que apenas 18 a cada 1 mil habitantes do Brasil são doadores de sangue – ou seja, somente 1,8% da população. No entanto, em alguns momentos do ano esse número cai drasticamente, especialmente no mês de julho, com a chegada do inverno e das férias de meio de ano.

Também são frequentes as notícias sobre bancos de sangue com baixo estoque ou campanhas feitas por amigos e parentes de pessoas que precisam de doação. Evidenciando a necessidade de aumentar o volume de indivíduos dispostos a realizar essa ação.

Doação de sangue na pandemia

Neste momento de pandemia, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo alertou para a queda dos estoques nos hemocentros da capital paulista. A demanda por sangue não parou enquanto a doação foi drasticamente diminuída.

“Nós sempre precisamos de doação de sangue e isso piorou sensivelmente durante a pandemia. Doar sangue é um ato simples, rápido e de cidadania, que não traz risco algum para quem realiza a doação. É um ato humanitário muito importante, principalmente na situação atual”, afirmou o médico e presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Dante Mario Langhi Jr.

Para manter manter um estoque nos bancos de sangue para se atender a demanda recorrente é necessário uma doação de sangue frequente.

Mesmo com as restrições de distanciamento, o processo para doar sangue é seguro. Mecanismos para evitar qualquer tipo de contaminação nasceram durante a pandemia. Com fluxos de entrada diferenciados, agendamento de horário para doações e todos os cuidados com a biossegurança. As salas de espera e de coleta foram redimensionadas para assegurar o distanciamento entre as pessoas.

Quem está apto a doar?

A doação de sangue é um gesto voluntário e repleto de solidariedade, mas nem todas as pessoas estão aptas a doar. O Ministério da Saúde aponta como requisitos para o procedimento:

  • Idade entre 16 e 69 anos. Menores de idade devem possuir autorização do responsável e pessoas entre 60 e 69 anos só podem doar se já forem doadores frequentes.
  • Pesar no mínimo 50 kg.
  • Ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas.
  • Estar bem alimentado (porém, se a doação for feita após o almoço, aguardar 2 horas. Se forem alimentos gordurosos, o tempo passa para 4 horas).
  • Apresentar documento de identificação com foto emitido por órgão oficial.
  • Homens só podem fazer quatro doações anuais (com, pelo menos, dois meses de intervalo), enquanto as mulheres só podem doar três vezes ao ano (com, pelo menos, três meses de intervalo).

Estas exigências são fundamentais para garantir a saúde do doador e das pessoas que receberão o sangue coletado.

Quem está impedido de doar?

Além disso, existem alguns aspectos que impedem a doação de sangue; portanto, é importante consultar a unidade onde o procedimento será realizado. Ainda segundo o Ministério da Saúde, existem impedimentos temporários e definitivos para a doação. 

Impedimentos temporários:

  • Gripe, resfriado e febre: aguardar 7 dias após o desaparecimento dos sintomas;
  • Período gestacional;
  • Período pós-gravidez: 90 dias para parto normal e 180 dias para cesariana;
  • Amamentação: até 12 meses após o parto;
  • Ingestão de bebida alcoólica: 12 horas;
  • Tatuagem, maquiagem definitiva, micropigmentação e/ou piercing nos últimos 12 meses (piercing em cavidade oral ou região genital impedem a doação);
  • Extração dentária ou tratamento de canal: 72 horas;
  • Cirurgia odontológica com anestesia geral: 4 semanas;
  • Acupuntura realizada com material descartável: 24 horas; se realizada com laser ou sementes: apto; se realizada com material sem condições de avaliação: aguardar 12 meses.
  • Apendicite, hérnia, amigdalectomia, varizes: 3 meses;
  • Colecistectomia, histerectomia, nefrectomia, redução de fraturas, politraumatismos sem sequelas graves, tireoidectomia, colectomia: 6 meses;
  • Herpes labial ou genital: apto após desaparecimento total das lesões.
  • Herpes Zoster: apto após 6 meses da cura (vírus Varicella Zoster).
  • Transfusão de sangue: 12 meses;
  • Vacinação: o tempo de impedimento varia de acordo com o tipo de vacina;
  • Exames/procedimentos com utilização de endoscópio: 6 meses;
  • Ter sido exposto a situações de risco acrescido para infecções sexualmente transmissíveis: 12 meses.

Alguns procedimentos médicos também exigem prazos mais longos, entre 3 e 6 meses. Por isso, antes de fazer a doação, vale a pena conversar com o médico ou entrar em contato com o banco de sangue para saber mais detalhes.

Impedimentos definitivos:

  • Ter passado por um quadro de hepatite A após os 11 anos de idade;
  • Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças transmissíveis pelo sangue: hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e doença de Chagas;
  • Insuficiência renal dependente de hemodiálise;
  • Uso de drogas ilícitas injetáveis;
  • Doenças hematológicas que necessitem de uso recorrente de hemocomponentes ou hemoderivados;
  • Alcoolismo crônico;
  • Cardiopatias graves;
  • Malária ou Mal de Parkinson.

Durante a doação

Para fazer uma doação de sangue, basta dirigir-se a uma unidade de coleta (hemocentro) para conferir o horário de funcionamento e confirmar os procedimentos. A triagem avaliará o seu sangue e a utilização.

  1. O doador é cadastrado com algumas informações básicas, tais como nome, sexo, idade, endereço, medicamentos utilizados e a apresentação do documento oficial com foto. Neste momento, dúvidas são esclarecidas.
  2. Critérios como peso, temperatura, pressão arterial são avaliados nessa etapa. Também é feita uma entrevista sigilosa que visa identificar, por exemplo, situações em que o sangue do doador possa ter sido contaminado.
  1. Caso você seja aprovado nas etapas anteriores, será preciso assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para seguir para a coleta. Então, é inserido um acesso venoso no paciente para a retirada do sangue , que dura cerca de 15 minutos.
  2. Na última fase, são realizados exames laboratoriais para analisar se aquela amostra de sangue está em condições de uso e se foram encontradas alterações, como as doenças impeditivas. Se for detectado algum problema de saúde, o paciente é informado para que possa buscar atendimento e tratamento adequados.
  1. As bolsas de sangue ficam armazenadas até a conclusão dos testes, a fim de garantir a segurança de quem receberá a doação. Caso todos estes exames não constatem nenhuma intercorrência, as bolsas são rotuladas e distribuídas conforme a necessidade de cada paciente, o que torna o procedimento seguro também para quem vai receber esse material.

Todo esse processo, juntamente com a doação em si, dura cerca de 40 minutos. Para salvar vidas que estejam precisando você levará menos de uma hora.

Pós-doação de sangue

Cuidados necessários após a doação para garantir a saúde do doador::

  • Aguarde ao menos 15 minutos para ir embora, para evitar mal-estar.
  • Faça um pequeno lanche após a doação;
  • Após a doação, aumente a ingestão de líquidos, especialmente água.
  • Evite bebidas alcoólicas e a condução de veículos de grande porte por um período de 12 horas após a doação;
  • Não realize grandes esforços físicos pelo menos nas 12 horas seguintes à doação;
  • Nas 2 horas após o procedimento, procure não fumar;
  • Espere pelo menos quatro horas para retirar o curativo do local da punção.

Benefícios

Os doadores também recebem alguns benefícios, como folga no trabalho: de acordo com os termos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), voluntários que doarem sangue têm direito a um dia de folga a cada 12 meses trabalhados. Desde que a doação esteja devidamente comprovada. Em alguns locais, também existe o direito à meia-entrada em eventos culturais e esportivos.

Até a década de 1980, a doação de sangue no Brasil era remunerada. Com o aparecimento da AIDS e outras doenças transmissíveis pelo sangue, o mundo passou a se preocupar com a segurança do sangue. Uma das medidas tomadas foi buscar acabar com as doações remuneradas e iniciar campanhas para o incentivo à doação voluntária.

Por isso, se você está apto a doar, não deixe de praticar este gesto de amor ao próximo!

(Mateus Conte Camargo – Jornal Jr. – Unesp Bauru)

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