Em vídeos curtos, opinativos e divertidos, os criadores de conteúdos literários da rede social Tik Tok impulsionam a leitura de livros misteriosos, românticos e enigmáticos.

(Foto: Freepik)
O nome booktok pode soar estranho para quem não é um usuário frequente do Tik Tok. Mas, a nomenclatura é autoexplicativa e diz respeito ao nicho específico de criadores de conteúdo da plataforma que produzem vídeos sobre livros. De modo geral, os booktokers -nome dos influenciadores desse nicho- lançam vídeos com resenhas e comentários dos livros que leram, alguns até fazem rankings das obras que mais gostaram de ler. Tudo isso em poucos minutos e, às vezes, em segundos.
Os vídeos atingem diversos públicos que não seguem os booktokers. Isso porque o algoritmo da plataforma não restringe a recepção de conteúdos apenas aos perfis que o usuário segue e sim a criadores que produzem conteúdos sobre temáticas que são consumidas frequentemente. Por isso, se você consome conteúdos culinários, sua página na rede estará repleta de criadores de conteúdo desse nicho, permitindo que novos produtores apareçam na sua timeline sem que você os siga. Nos vídeos literários, a recepção de vídeos segue o mesmo padrão.
Em entrevista, Nathan Sampaio Silva Ramos, estudante de jornalismo e produtor do programa literário “Floreios e Borrões” da RUV Podcasts, ressaltou que a linguagem utilizada nos livros é a principal chave para o sucesso dentro da plataforma.
“Eles tentam relacionar livros com outras mídias, por exemplo, você vê vários tiktokers que falam: ‘ah, se você gostou de série x, leia esse livro’. ou ‘se você jogou esse jogo, leia esse livro’. Então, eles conseguem fazer relações com vários outros tipos de mídia, e acho que isso fura a bolha, atingindo todo esse pessoal que se interessa por essa área cultural”, esclarece.
Essa quebra da bolha é o aspecto mais interessante da plataforma, tendo em vista que nas demais redes sociais, os usuários possuem contato apenas com os conteúdos de perfis que eles seguem e raras são as exceções para que conheçam novos produtores digitais. Por essa razão, os conteúdos literários entraram em ascensão. Os vídeos expõem opiniões dos criadores e dicas de livros que, na maioria das vezes, são compostos por histórias românticas, misteriosas e com plots twists nos finais, isto é, mudanças bruscas e inesperadas no enredo das tramas.
Dessa forma, os utilizadores da rede conseguem conhecer as sinopses de livros em menos de um minuto e ainda associam a trama com algo que esteja bombando no momento, como acontece quando os criadores de conteúdos literários englobam nos vídeos músicas e memes que estão repercutindo. O fenômeno tem sido tão impactante que algumas livrarias criaram seções específicas para o Tik Tok, para que os compradores se localizem e encontrem com facilidade os livros mais indicados na plataforma.
Sobre os estilos de produção dos conteúdos, Sampaio reitera que eles envolvem estruturas similares, como o uso de dublagens, memes e músicas que estão em alta. Além disso, enfatiza que as semelhanças entre os vídeos proporcionam identificação com o cotidiano dos leitores, desde seus hábitos até as suas organizações na estante de livros, por exemplo.
“Tem aqueles que fazem um pouquinho de humor com os livros, pegam as vezes uma cena e dramatizam, tentando fazer uma piadinha, ou fazem algum comentário… E tem também aqueles que falam sobre ‘o ser leitor’. Manias de leitor, métodos de organização dos livros, dicas de leitura”, salienta.

Os livros que viraram sucesso na rede social
As obras que ganharam destaque na plataforma possuem algumas semelhanças: representatividade entre os personagens, capas coloridas e atrativas, histórias românticas e misteriosas e os clássicos plot twists, que promovem um efeito catártico entre os leitores.
Diante disso, confira abaixo os livros mais indicados pelos booktokers que possuem essas características:
- “Mentirosos”, de E. Lockhart
- “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”, de Taylor Jenkins Reid
- “Um de nós está mentindo”, de Karen McManus
- “A Canção de Aquiles”, de Madeline Miller
- “Acorda Pra Vida, Chloe Brown”, de Talia Hibbert
- “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, de Casey McQuiston
- “Clube do Livro dos Homens”, de Lyssa Kay Adams
- “Corte de Espinhos e Rosas”, de Sarah J. Maas
Quais perfis produzem esse tipo de conteúdo?
Alguns nomes podem ser conhecidos, haja vista que muitos migraram de outras plataformas, como Youtube e Instagram. No entanto, em abordagens mais concisas e divertidas. Afinal de contas, essa é a essência do nicho de literatura dos booktokers.
Os perfis mais conhecidos são: Nanna (@livraneios), Tiago Valente (@otiagovalente), Rhayssa Porto (@minhaestantecolorida), Mireya Liduario (@mytris_), Jéssica Martins (@surtandonasleituras) e Maju Alves (@majualves). Utilizando as tendências, eles abordam os conteúdos dos livros, interpretam cenas épicas da trama, fazem comparativos e resenham as obras que leram, despertando nos receptores a curiosidade em saber o enredo dos livros na íntegra, lendo-os.

(Foto: Freepik)
Como a rede social pode ajudar no estímulo à leitura?
Diversas pessoas não possuem um bom relacionamento com a leitura, não é mesmo? Nas escolas, algumas das leituras, obrigatórias para testes de literatura e exames de vestibulares, carregam um vocabulário rebuscado e de difícil compreensão, dificultando que os jovens se aproximem do ato de ler. Muitos levam essa dificuldade para a fase adulta e preferem ver filmes do que se aventurarem nos capítulos de livros. E é nesse cenário que os produtores de conteúdos digitais podem ajudar.
Em relação a esse estímulo, o produtor e estudante de Jornalismo Nathan Sampaio Silva Ramos alerta sobre a influência de reconhecimento que esses produtores digitais exercem nas obras de autoria nacional.
“Os booktokers podem ajudar autores nacionais e independentes, com certeza, porque os booktokers falam uma linguagem que dialoga com todos os públicos, e principalmente com o público jovem”, pontua.
Ao apresentarem histórias com linguagens fáceis e que prendam os leitores, os criadores de conteúdo digital conseguem estimular a leitura e desmistificar o mito de que ler é entediante, chato e maçante. Além disso, muitos booktokers também criam clubes do livro, praticando a leitura semanalmente com os seus seguidores, trocando interações sobre as percepções, críticas e teorias que o enredo de capítulos da semana despertou.
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Por: Felipe Nunes, Jornal Jr. – Unesp/ Bauru