Sustentabilidade e efeitos das mudanças climáticas na Terra
A entrevistada Aliny P. F. Pires é bióloga, doutora em Ecologia e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Seu foco de pesquisa é investigar o papel da biodiversidade em relação aos efeitos das mudanças do clima. Ela está associada à Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, à Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos e à Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais – Rede Clima.
A pesquisadora nos aponta como as mudanças climáticas vão afetar a biodiversidade e nossa vida. É importante ressaltar que o clima é descrito por um conjunto de variáveis como temperatura, pressão atmosférica, umidade do ar, pluviosidade, etc. em um determinado intervalo de tempo. Dessa forma, as mudanças climáticas descrevem como esse conjunto de variáveis em uma escala temporal tem sido alterado perante um determinado padrão. Hoje, sabemos que o clima da Terra está sendo drasticamente afetado pelas ações antrópicas, principalmente nos últimos 50 anos. Essas alterações no clima podem ser naturais, no entanto, os resultados das atividades humanas são os grandes responsáveis por essas mudanças, principalmente ações resultantes da queima de combustíveis fósseis, responsáveis pela emissão de gases causadores do efeito estufa. Os efeitos das mudanças climáticas refletem aumento de temperatura em todo o globo, além disso, promovem alterações drásticas nas médias de pluviosidade acarretando eventos drásticos de seca em algumas regiões e chuvas intensas em outras. Segundo o último relatório publicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática), a estimativa é de que ocorra uma aumento de até 6 graus em algumas regiões do globo, nos piores cenários. Assim, os efeitos em cascata que um aquecimento desse nível na temperatura pode resultar podem ser catastróficos. Isso inclui alterações no padrão no nível de precipitação e as alterações entre as estações secas e chuvosas. Tais efeitos acarretam uma série de consequências que comprometem nosso bem-estar e a biodiversidade de uma forma integrada. Estima-se ainda, que os gastos econômicos envolvidos em atender os eventos extremos e grandes catástrofes climáticas vão ser cada vez mais frequentes.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática (IPCC) é uma organização científico-política criada em 1988 pelas Nações Unidas (ONU) que tem como principal objetivo a síntese e divulgação de todo o conhecimento atual sobre as mudanças climáticas e suas consequências para todos os seres vivos e o ambiente em que vivemos (pt.wikipedia.org). Vale ressaltar, que o aumento da temperatura e seus efeitos na Terra, especificamente, é o principal foco. Por isso, temos que nos preocupar com as mudanças climáticas, o clima é um tema que permeia toda nossa vida, precisamos tratar isso com urgência e quanto mais tempo demoramos mais próximos estaremos em situação de risco.
A perda de biodiversidade, é uma resposta a uma série de outros processos, e suas principais causas incluem mudanças climáticas, poluição, destruição de habitats principalmente devido a pecuária e agricultura, invasão de espécies exóticas e exploração excessiva da natureza. Dentre os ecossistemas, os ecossistemas aquáticos são especialmente vulneráveis às ameaças a perda de biodiversidade porque são grandes receptores de parte dessas alterações (poluição, represamento, lixiviação, etc) e, além disso, muitos ambientes aquáticos surgem temporariamente como resposta da presença de chuva e dependem de um padrão de pluviosidade para sua manutenção. Vale ressaltar também, que a vegetação em torno dos rios é extremamente importante para manutenção da biodiversidade do sistema aquático, pois o principal subsídio energético do ambiente aquático vem do ambiente terrestre e existe um fluxo de matéria e energia entre esses dois ambientes.
Como podemos viver de forma mais sustentável? Sabemos que os modelos de desenvolvimento que nos trouxe até aqui são os principais responsáveis pelo aumento de temperatura do globo, por isso é indicado que repensemos sobre as mudanças desses modelos. O papel do homem é extremamente importante na sustentabilidade e devemos incluir todo conhecimento tradicional indígena, incluir o conhecimento produzido provenientes de povos originários da América Latina, África, Índia, etc, integrando toda diversidade biocultural no processo. Por fim, vale refletir o quanto nossa visão de mundo está alinhada com a sustentabilidade. Isso inclui todas escolhas individuais e esforços para mudança cultural de consumo de larga escala, inclui também mudança radical na dieta global dentro da realidade de cada indivíduo e assumimos total responsabilidade sobre nossas escolhas e sobre o quanto o modo de vida e cada um tem de impacto para o planeta.
Camila Vieira Curti
Doutora em Ecologia Evolutiva e Comportamental e Professora temporaria na USP, campus Pirassununga. Experiência em ecologia, comportamento e bem-estar animal
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